Opinião
Desafios do agronegócio brasileiro
Por João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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O agronegócio envolve todos os negócios oriundos da agricultura no sentido amplo, ou seja, é a exploração econômica dos recursos naturais orgânicos; vegetais e animais, produzidos no solo e dependentes do clima. Diferente da indústria, que produz em ambiente protegido, a agricultura depende das mudanças climáticas ou transformações nos padrões de temperatura e clima, principalmente por atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, exercícios nucleares, extermínio de matas e contaminações de rios e lagos. Mesmo assim, o setor agropecuário brasileiro tem desempenhado um papel fundamental na economia do País ao longo das décadas.
No atual cenário econômico do Brasil, o setor agrícola tem apresentado um crescimento significativo alcançando um quarto da produção nacional. Em 2023, produziu uma safra recorde de grãos de aproximadamente 317 milhões de toneladas. Além do mais, no comércio internacional, o saldo setorial do agronegócio foi de US$ 166,65 bilhões em 2023, o que contribuiu para um saldo comercial positivo na economia brasileira. Nada disso parece importante para determinados governantes e formadores de opinião, ao contestar o setor chamando-o de fascista ou alegando ser danoso ao meio ambiente. O País preserva dois terços do seu território com matas nativas, e dentro das propriedades agropecuárias, são preservados 25,6% do território nacional.
O entusiasmo pelo agronegócio brasileiro é visível nas feiras que reúne a cadeia produtiva como a recente Expodireto Cotrijal no município de Não-Me-Toque, onde foi anunciado recorde de negócios, totalizando R$ 7,92 bilhões. A grandiosidade do setor poderia ser ainda maior se os governantes dedicassem atenção aos principais desafios que o setor enfrenta que dificultam o desenvolvimento ainda maior. O sistema de infraestrutura logística brasileiro ainda apresenta sérias deficiências, o que dificulta o escoamento da produção agrícola para os mercados internacionais. A quase totalidade da produção é transportada via rodoviária, enfrentando estradas precárias, altos custos com pedágios, com perdas significativas das cargas, que chega a 35% do percurso da lavoura ao porto exportador. A necessidade de estabelecer um conjunto alternativo de infraestrutura de escoamento é cada vez mais relevante, especialmente à medida que novas áreas de cultivo se distanciam dos tradicionais terminais portuários.
Outro fator determinante para o desenvolvimento do setor é a dependência da importação de fertilizantes no Brasil e seus impactos na produção. O aumento dos preços dos fertilizantes nos últimos anos - em decorrência das guerras entre países produtores - fez aumentar os preços, o que demonstra a necessidade do País em produzir internamente estes insumos.
O lado bom do agronegócio, segundo Marin et al. (2016), que aborda a intensificação da sustentabilidade da agricultura brasileira até 2050, é que há indicações de que o crescimento da renda aumentará a demanda por proteína de origem animal.
Apesar de a área de pastagem ter diminuído nas últimas décadas, o rebanho bovino e a produtividade da pecuária cresceram, e ainda há margem para crescimento tanto em carne quanto em leite. Por fim, em 2023 foi um ano muito bom para o agronegócio e é difícil crescer no mesmo ritmo em 2024. A escala da produção esteve num patamar alto, o que é difícil prevê superação. Mesmo assim, pesquisadores entendem que haverá crescimento do PIB brasileiro em 2024, mas tudo depende do setor agropecuário, em função do peso que representa no PIB, que, segundo especialistas, não deverá repetir o sucesso de 2023, em função das condições climáticas não favoráveis com excesso de chuvas e temperaturas altas.
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